Esta noite realiza-se a final do Eurovision Song Contest (ESC) 2024, que tão envolto está em polémicas, por questões políticas tomadas pela responsável do certame, EBU, decidindo a participação de países que violam os Direitos Humanos (que inclui manipulação das actuações durante a semifinal, para os beneficiar claramente), assim como a não participação, até agora só a todos os ensaios (vamos a ver se também vetam à sua participação na final*), de países que participaram na semifinal e foram apuradas para a final... Dois pesos e duas medidas, segundo os interesses da senhora EBU, que nos revela que o que move verdadeiramente o ESC não é a música mas a política (para quem ainda estava com dúvidas!), como provam as várias manifestações na Suécia, com cidadãos de vários países.
Mas vamos deixar os dramas políticos do ESC'24 (mas SOLIDÁRIOS com as vítimas!) e centrarmo-nos na Música para recordar a canção alegre e cheia de vida que nos fala de AMOR e que Dina apresentou na mesma cidade e local deste ano**, em Malmö, mas no ano de 1992, com música da sua autoria e letra de Rosa Lobato de Faria, 'Amor d'Água Fresca':
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Post-Scriptum (13h00):
* Como a política é quem mais ordena no ESC/EPC (Eurovision Politics Contest), a EBU decidiu desclassificar os Países Baixos da final de hoje, por ser vítima de bullying e assédio por parte de Israel (a super-protegida da EBU), como provam vários vídeos. Desta feita, com a grande favorita à vitória fora do concurso, Israel torna-se a favorita (segundo as sondagens), já para não falar na manipulação da votação do televoto, já que deu a pontuação mais elevada (12 pontos) a Israel na semi-final, por artes do demónio. É de repudiar este tipo de comportamento, que tudo revela sobre a falta de valores morais dos envolvidos.
** Após 1992, a Suécia foi sede do ESC/EPC mais três vezes, onde Portugal (RTP) não lhe apeteceu participar por razões enigmáticas.
Dina, a representar Portugal no Eurovision Song Contest 1992, em Malmö (Suécia), apresentou no segundo ensaio geral a versão bilingue de "Amor d'Água Fresca", em Português e Inglês. A Música é de Dina (Ondina Veloso) e a Letra é de Rosa Lobato de Faria.
No palco eurovisivo estiveram: - Dina: Voz e guitarra; - Cláudia Veloso (prima de Dina): Coro; - Diana Valente Perfeito: Coro; - João Falcato (sobrinho de Dina): Teclas; - Mico da Câmara Pereira: Baixo e coro; - Vasco Sousa: Bateria.
RTP Arquivos colocou à disposição do público o XXIX Festival RTP da Canção, que se realizou no ano de 1992, para festejar os 35 anos de existência da RTP. A final do Festival no Teatro S. Luiz foi apresentada por Ana Zanatti e Eládio Clímaco e a nossa Dina foi galardoada como vencedora, com a canção 'Amor d'Água Fresca'. A apresentação do Festival está divida em 3 partes: 1ª parte (apresentação de vários sucessos da música portuguesa por artistas convidados), 2ª parte (desfile das canções concorrentes; Dina ao minuto 04:50), 3ª parte (apresentação de vários sucessos da música internacional por artistas convidados, votação das 22 capitais de Distrito, entrega de prémios e repetição da canção vencedora; Dina ao minuto 01:13:16 e seguintes). Diz-se que Festival sem polémica não é Festival, mas também Festival sem gafes e erros (entrega de prémios à pessoa errada, blackout de câmaras, violinistas que apanham sustos, etc.) não é Festival... Tudo isto "é uma casa portuguesa, com certeza". A canção 'Amor d'Água Fresca' recebeu 230 pontos (mais 60 do que a segunda classificada) e 4 prémios: Orquestração (Luís Filipe), Letra (Rosa Lobato de Faria), Música (Dina) e Intérprete da Canção Vencedora (Dina).
Uma das curiosidades à volta de 'Amor d'Água Fresca', para além da polémica com a letra, que já destruímos e descodificamos (ver aqui e páginas seguintes), é a utilização do lenço verde (ao pescoço ou espreitando do bolso superior do casaco dos elementos masculinos). Há quem diga que simboliza a Natureza, a Esperança... mas há quem diga que esse adereço está relacionado com o cravo verde que utilizou Óscar Wilde numa apresentação pública, ideia do próprio Wilde. Perguntaram-lhe o significado e a resposta de Wilde foi: "Nada em concreto, mas isso é justamente o que ninguém suporá". Desde então, de alguma maneira faz parte da iconografia Queer (de quem é integrante da Comunidade LGBTQI+ e de quem se associa e apoia a Causa). O filme The Trials of Oscar Wilde (1960) aborda esse período do escritor, o tal d' "o amor que não ousa dizer seu nome"; o filme recebeu o Golden Globes Awards de Melhor Filme Estrangeiro em Língua Inglesa. Uma flor verde na lapela foi utilizada por Elliot Page em 2021. Não vamos alimentar simbolismos, fica ao critério de cada um(a) o significado que queira atribuir ao lenço verde, caso isso queira.
Mas antes da Final do Festival da Canção, aconteceram 5 semifinais, e a Dina participou na 2ª semifinal (Dina ao minuto 23:46) e foi apurada para a final ao obter 40 pontos, a melhor classificação dessa semifinal e a 2ª melhor de todas as 15 semifinalistas.
Como não há duas sem três, depois da semifinal e final do Festival da Canção, viajamos para o que aconteceu depois da vitória de Dina no Teatro S. Luiz:
»» I - Promoção discográfica:
Single
Minicassete
»» II - Videoclip e versões linguísticas oficias:
- Português - o videoclip, também visualmente, é o mais "irreverente" e marcante até então (e da história do festival, ou dos mais, pelo menos), a influência deste é notória nos videoclips das representantes portuguesas de 1993 e 1994):
- Inglês - Esta versão é profundamente activista, há um paralelismo entre as poluições ambiental e social deste mundo patético (ruído, solidão, dinheiro/poder,...) e a chegada da pessoa que refresca a Dina e da qual ela recolhe cada baga do seu Amor:
- Francês - Ao Golem de frutas, Rosa Lobato de Faria acrescenta inúmeras flores comestíveis, aumentado a diversidade de cores, aromas, paladares texturas e sons:
- Castelhano - É a versão mais próxima ao original, em português, mas é indiscutivelmente notória a pitada de ¡Olé!, com referência ao calor e à flor de laranja ('flor de azahar'), tão característicos no país vizinho:
»» III - No 2º ensaio para o Eurofestival, e já no palco sueco, Dina interpreta a versão bilingue de Amor d'Água Fresca:
»» IV - Dina interpreta a versão portuguesa de Amor d'Água Fresca na final do Eurovisiong Song Contest 1992, completamente solta e livre:
Já com a equipa de Amor d'Água Frescachegada aMalmö, na Suécia, na altura do cocktail de boas-vindas oferecido pela Organização do Eurovision Song Contest (ESC) a todos os países, a RTP lembrou-se de dispensar do mesmo a intérprete e as autoras da música e da letra, isto é a Dina e a Rosa Lobato de Faria, tendo estas ficado retidas no hotel. Atitude grotesca esta, por parte da RTP, que acabou por ser reflectida no desinteresse de alguns jornalistas e comitivas internacionais (o nosso videoclip, assim como a versão em inglês da canção, deram a volta à cabeça a muita boa gente, ficando maravilhados e curiosos). Qual o motivo que levou a RTP a agir com tal desrespeito às pessoas de Dina e de Rosa Lobato de Faria? O que é que por lá, no cocktail, a RTP disse da nossa canção, da sua intérprete e das suas autoras? Qual foi a desculpa esfarrapada que a RTP deu, perante a Organização e restantes convidados, para as pessoas mais importantes da canção portuguesa não estarem lá presentes? Etc., etc., etc.
Dina teve o cuidado de promover Amor d'Água Fresca também em Malmö, levando bastante material de promoção, maioritariamente feito por amigos de Dina. Foi a primeira vez que a participação de Portugal no ESC teve o cuidado de levar material promocional da sua canção. Uma vez que a RTP não levou pessoal (responsável), foi a mesmíssima Dina que, com saco às costas, andou a distribuir o dito material pelos jornalistas e comitivas dos restantes países. Se para Dina "não caíram os parentes na lama", como ela referiu, esta atitude de desembaraço, maturidade e dedicação foi olhada de lado, com desprestígio, por parte de algumas comitivas, que castigaram assim a RTP na altura votação, pelo desrespeito à sua intérprete e autoras.
Na passagem pelo ESC também houve momentos de boa disposição e descontracção, como uma foto que chegou a estar na internet, em que a Dina e a intérprete belga trocam peças de fruta - a Dina, numa "banca da fruta" apresentava à aquela um ananás (seguramente dos Açores, dizia a legenda), - assim como a da foto abaixo, antes da grande noite, onde Dina, com um leve toque de loucura, faz uma reinterpretação de Carmen Miranda, substituindo a cesta de frutos por flores (estas últimas abundantes na versão em língua francesa de Amor d'Água Fresca). Aliás, a simpatia e alma de Dina fazia-se notar por onde passava e eram bem apreciadas.
Chegado o grande momento, a 09 de Maio de 1992, Dina defende a sua canção e País no 37º Eurovision Song Contest, subindo ao palco do Malmömässan na 8ª posição. É de guitarra em riste e voz colocada, com desenvoltura, garra, profissionalismo, boa disposição, irradiando jovialidade, assim como boas vibrações e cumplicidade com o telespectador/câmara, que Dina apresenta dignamente o divertido Amor d'Água Fresca para vários países europeus.
» Recordatório:Amor d'Água Fresca apresenta um vocabulário novo para a temática do Amor: Uma Alegoria do Amor, onde se coloca de lado o sentido literal para se destacar o sentido figurado através de várias imagens metafóricas, em que as características subjectivas que representa cada uma das frutas presentes na letra são destacadas e transpostas para uma relação amorosa. Igualmente, esta canção é vista como um Golem de Frutas - ser animado constituído por inúmeras frutas, - como as mal-amadas figuras da obra de Giuseppe Arcimboldo. Como se constata, a letra é rica em inúmeros recursos estilísticos, mas queremos focar aqui igualmente a Simbologia de uma das três acções positivas da canção, por ser a mais incompreendida: "Meti-te na cesta"; 'cesta' representa o coração, o sítio onde são colocadas delicadamente cada uma das delícias frutais que a Vida brinda(!), como Dina ilustra no Postal Musical que se segue:
Ou então, para assimilar melhor o meti-te na cesta podem ajudar estas outras "mil palavras":
Amor d'Água Fresca ficou em 17º lugar da tabela, entre 23 países participantes, com 26 pontos - por tradição, Portugal no ESC é olhado de lado e as suas canções são muitas vezes desvalorizadas. - Portugal recebeu pontos de Alemanha (8), Israel (8), Jugoslávia (5), Finlândia (2), Grécia (2) e Itália (1). A canção teve na Direcção de Orquestra o Carlos Alberto Moniz. No palco, acompanharam Dina o João Falcato (teclas; sobrinho de Dina, falecido em Julho de 2021), a Cláudia Veloso (coro; prima de Dina), o Mico da Câmara Pereira (baixo e coro), o Vasco Sousa (bateria) e Diana Valente Perfeito (coro). Os três primeiros destes elementos já acompanharam a Dina nesta aventura frutal na semifinal e na final do Festival RTP da Canção.
O palco eurovisivo deste ano é considero por muitos fãs do ESC, eurofãs, como o pior de toda a História, pela inclusão de um barco viking que rasgou o palco, como se de uma placa de gelo se tratasse, e se estagnou no meio do mesmo. Este elemento nada neutro, devido à sua posição e dimensão, era difícil de fugir durante a apresentação das canções, o que prejudicou mais algumas canções do que outras. Os planos escolhidos pela televisão portuguesa, para além de estáticos, monótonos e repetitivos, acabou por não abonar a favor da nossa canção, já que tal monumental figura foi mostrada até a exaustão. Também para muitos fãs, a qualidade das canções deste ESC é o mais baixo da História.
O vestuário de Dina no evento também não foi boa escolha, para os eurofãs. Preto carregado da cabeça aos pés, numa canção alegre, fresca e colorida!? De longe, a forma como Dina se apresentou na final do Festival da Canção era a mais adequada - algumas comitivas internacionais até aguardavam ver a Dina apresentar a sua canção vestida como no videoclip, à Carmen Miranda!
Alguns comentários também apontam como negativo o arranjo de violinos na orquestra, por este não acompanhar o ritmo da canção, opondo-se ao mesmo, desacelerando-o. Isto comparando-o com a base sonora do videoclip. Recorde-se que Carlos Alberto Moniz, já tinha apresentado o mesmo arranjo na final do Festival RTP da Canção. O Carlos, tal como a Dina, tem uma ligação ao Arquipélago dos Açores - a Dina pela ascendência materna, o Carlos por ter lá nascido.
Sendo o ESC um grande evento mundial, há três ensaios obrigatórios, sendo que no segundo ensaio teve o pormenor de Dina ter apresentado uma interpretação bilingue, português-inglês (o refrão e a parte final da canção eram em inglês), mas a RTP não aprovou o seu uso, que até ajudaria à compreensão da canção por parte dos outros países:
Em suma, também na Música não se pode agradar a gregos e a troianos, mas aquilo que é certo é que Amor d'Água Fresca e Dina apresentaram no Eurovision Song Contest 1992 uma proposta ímpar, desempoeirada, muito carismática e catalisadora, com uma letra (Rosa Lobato De Faria) e ritmo ousados e uma interpretação vivaz e expressiva. Características estas que nenhum país europeu pensara que Portugal um ano iria apresentar.
A titulo de curiosidade, fica aqui o resumo das 23 canções participantes no ESC 1992, por ordem de apresentação: