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zonaDINAmica

Clube Oficial de Fãs da Cantora e Compositora Dina.

Primícia de Dina: 50 Anos Depois

Em 2025 cumpre-se 50 anos da múltipla primícia de Dina!

 

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Dina já tinha chamado a atenção ainda na escola, onde participava em festas a cantar, acompanhada da sua guitarra, da qual já se tinha tornado inseparável. Com o fim da Guerra Colonial e a chegada de "Retornados" e refugiados a Portugal Continental, surge em Carregal do Sal, terra natal da Dina, o Quinteto Angola, ao qual a nossa Dina se integra, sendo o sexto elemento deste Quinteto e com o qual percorre sobretudo a região das Beiras, enfrentando um maior e diverso público. O Quinteto Angola era essencialmente um grupo de “música de baile”, mas a parte da actuação de Dina chamava a atenção dos presentes e aquilo transformava-se em um concerto, já que toda a gente parava para a ver e ouvir cantar, também por ela ser uma mulher (coisa rara na época e para mais fora de Lisboa!), sendo que aí surgem as suas primeiras composições, com esse seu timbre ímpar – ‘Pássaro Doido’ é uma das que nasceu no tempo do Quinteto Angola, mas cantada em inglês.

 

[2]

Possivelmente com os trocos que ganhou dos primeiros concertos com o Quinteto Angola, Dina grava a solo um EP em 1975 (ela teria os seus 18 ou 19 anos). Por não ter sido bem informada, Dina foi para as gravações só com 3 canções preparadas (uma com música e letra da sua autoria mais dois Poemas de Autor que Dina musicou). Os responsáveis da editora pediram-lhe se Dina sabia mais alguma canção, ao que ela respondeu “sim, mas não é minha”, sublinhou. Eles ficaram encantados com essa sua versão da canção que responderam que não há qualquer problema em não ser um original dela. Foi essa mesma canção que acabou por dar título ao seu primeiro trabalho, já que era conhecida a versão original, que era do Tino Flores. Este, mais tarde, revelou que gostou da versão de Dina da sua canção. Esta canção o Tino a gravou mais do que uma vez, com variações na letra em cada gravação. Como curiosidade, Tino Flores também fez parte da Editora-Cooperativa UPAV, na qual Dina lançou o Lp e CD ‘Aqui e Agora’ (1991) e os singles ‘Amor d’Água Fresca’ (1992).

 

Eis as 4 canções incluídas neste seu primeiro trabalho discográfico, sob o nome de Ondina e com o título 'Viva a Liberdade':

 

Lado A
A1 - 'Viva a Liberdade' (Tino Flores)
A2 - 'Porquê' (Ondina Veloso)

Lado B
B1 - 'Inocência' (Ondina Veloso/António Gedeão)
B2 - 'Meu Limão, Meu Limoeiro' - (Ondina Veloso/Fernando Pessoa)

 

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Recordamos os Postais Musicais que publicamos deste EP, da nossa iniciativa Músicas Entre Nós.

 

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Nesse mesmo ano de 1975 Dina decide também debutar na televisão, mais concretamente na rubrica "Lugar aos Novos" do programa “Nicolau no País das Maravilhas”, contactando pela primeira vez com as câmaras e os rebuliços próprios nesse ambiente. Neste programa, de e com Nicolau Breyner (falecido em 2016 na sequência de um ataque cardíaco, aos 75 anos), ganhou fama as rábulas “Senhor Feliz e Senhor Contente”, em que o Nicolau contracenava com um Herman José a dar os primeiros passos na televisão. No programa, Dina apresentou-se como Ondina e interpretou ‘Inocência’, que abria o lado B do seu EP, seguramente dedilhando a sua guitarra. Eis o Poema de António Gedeão - 'Forma de Inocência' - que Dina musicou e apresentou na televisão com o título ‘Inocência’:

 

Hei-de morrer inocente

exactamente

como nasci.

Sem nunca ter descoberto

o que há de falso ou de certo

no que vi.

 

Entre mim e a evidência

paira uma névoa cinzenta.

Uma forma de inocência,

que apoquenta.

 

Mais que apoquenta:

enregela

como um gume

vertical.

E uma espécie de ciúme

de não poder ver igual.

 

Finda a actuação, Dina teve o olhar de críticos que a elogiaram na imprensa. Dina anima-se a gravar um outro EP no ano seguinte, 'Madrugada', com mais 4 canções: 3 com letra e música da sua autoria e um Poema de Fernando Pessoa musicado pela própria. A Música preenchia a Dina e ela sentia  cada vez mais que havia um público que se identificava com a sua forma de interpretar e com a sua música... Era este o caminho que Dina queria percorrer na sua Vida, definiu com inocência; conspirações, traições, ódio e outras forças obscuras por parte dos "responsáveis" da área musical atacaram a Dina (como a muitos dos seus colegas nesta área e noutras da Cultura), mas o seu público não, este era-lhe fiel, pois a Música de Dina eleva e encoraja a viver a quem a ouve.

 

O imperativo ético de Dina é o artivismo, tendo como ‘leitmotiv’ (do alemão, motivo condutor/recorrente) o Amor e tudo o que isso abarca, com uma visão positiva da Vida e plena de humanismo. Uma vez que não temos este EP, desconhecemos o conteúdo das letras (excepção feita à canção ‘Inocência’, acima exposta), mas seguramente é por ter pelo menos a canção ‘Viva a Liberdade’ do Tino Flores, que este trabalho de Dina, o seu primeiro, é considerado aquilo que se denomina de um “disco pós-25 de Abril”… E Dina/Ondina uma das VOZES DA LIBERDADE, no sentido mais amplo e puro do termo.

 

Nota zDm 1 - Pensamos que a edição do EP de Dina é anterior à apresentação desta na televisão com o tema ‘Inocência’, uma vez que se fosse o oposto seria lógico o EP denominar-se ‘Inocência’ e ser esta a canção a abrir o mesmo.

 

Nota zDm 2 - A ver se ao longo deste ano a RTP disponibiliza no seu arquivo online, pelo menos, a actuação de Dina/Ondina com ‘Inocência’. Ainda nos questionamos o porquê de Dina não estar incluída na secção "Coleções" daquela Página, já que a RTP tem muito material de Dina... Fechado a sete chaves, censurado(?).

 

Nota zDm 3 - Este ano seria uma boa altura para ser reeditado e dar a conhecer ao grande público, pelo menos, os 2 EPs de Dina, devidamente trabalhados.