Dina (1956-2019), (Um)A Cor da Vida
Na noite do dia 11 de Abril de 2019, a Cantora e Compositora Dina (nome artístico de Ondina Veloso) falece no Hospital Pulido Valente, em Lisboa. Em 2006 foi diagnosticada com fibrose pulmonar, doença esta que a Ciência dá apenas 3 anos de vida, mas que a Dina teve fôlego para 13 anos, graças à paixão e garra pela vida. Aguardava por um transplante pulmonar, mas nunca chegou a vir o pulmão que ela tanto precisava para continuar a viver.Uma lutadora nata, que ninguém andou com ela ao colo, foi tirado a ferros o sucesso de Dina, que para muitos passa ao lado por desconhecimento da Obra, por culpa da comunicação social (sobretudo a rádio e a televisão, mas também a imprensa) e empresas discográficas, como referiu Júlio Isidro. Desde sempre a Dina teve o ímpeto para a cantoria. Foram 62 anos de Vida e de casamento com a música. 62 anos que se poderiam simbolizar num ambar.
Dina é a cor da própria Vida. Vida que Dina tão bem interpretou com o seu timbre único e característico em que o Mundo parava de girar mal a Dina abria a boca, com as palavras suas, mas sobretudo de poetas e poetisas (com pinceladas de algumas palavras suas, que serviam de mote) e, obviamente, musicou, pois a génese de tudo era a própria música. A Vida que a Dina com arrojo para além de cor deu também forma, textura, sonoridade, sabor, perfume e sentimento, tudo isto nos ofereceu em forma de Música, materializando o que para muitos não passaria de fórmulas complicadas que provariam a existência de um qualquer Buraco Negro algures no espaço. Por coincidência, horas depois da primeira imagem obtida deste a Dina nos deixa órfãos.
Dina não é reduzível, redutível. Tocou vários estilos musicais, desde a balada ao rock, passando pelo funk e outras "etiquetas". Dina encarna na perfeição uma trovadora dos tempos modernos. Alguém que menospreza a Obra de Dina por ideologias políticas (que Dina nunca teve!) ou aversões sexuais mostra, no mínimo, ausência de inteligência. Dina, por afinidade com uma pessoa, fez um hino partidário e participou na campanha desse ano de 1995, afinal, nesta sociedade é preciso dinheiro para se sobreviver, ou não? A História actual está cheia de nomes masculinos que tiveram e têm essa mesma atitude, mas que ninguém lhes atira pedras. Só por uma mulher ter a ousadia de fazer algo que está reservado(?) ao universo masculino dá direito a ser enxovalhada? Ó meus caros, Dina desde cedo se habituou ao lugar de primícia: É a primeira cantora compositora de Portugal - o dizem vários especialistas (será por, mesmo assim, ter mais Obra publicada?), - e não sendo a primeira a representar Portugal no Eurovision Song Contest enquanto tal, foi-o em dupla feminina, com Rosa Lobato de Faria em 1992, com uma canção simples, quase infantil, mas com uma maturidade brutal que ainda há quem ache a letra estranha, passado quase 30 anos! É estranho pegar em algo (pessoa, situação,...) novo, o trincar para arriscar nessa aventura e, se for de qualidade o meter na cesta (guardar no coração - estar atento ao minuto 3:20 e seguintes)? Dina, ainda moça, começa a compôr com a guitarra dos irmãos mais velhos que estava lá por casa, começa a dar nas vistas, quer em grupo (Quinteto Angola), quer depois em solitário, editando 2 EPs. Ainda a televisão era a preto e branco quando Dina teve a sua primícia televisiva musicando um poema de António Gedeão num programa do Nicolau Breyner. Quando a RTP começou a cores, no Festival da Canção de 1980, a Dina lá estava e conquistou o Prémio Revelação. Na primeira telenovela portuguesa, Dina marcou presença com "Aqui Estou". Em 1993, na primeira telenovela da TVI Dina compõe e dá voz ao genérico de "Telhados de Vidro". Também na TVI, o seu genérico "Que é de Ti", para a telenovela Filha do Mar, chama a atenção para a produção televisiva, marcando um antes e depois. Dina é o diminutivo de Ondina, que tem origem etimológica na palavra onda, logo Dina é sinónimo de movimento, liberdade, energia, revolução. Dina estava destinada a ser a primeira, mas nasceu em um País que não valoriza o que é seu. Mesmo não tendo recolhido grandes frutos, Dina foi importante para a Música e a Sociedade actual estar e ser, de certo modo, mais madura.
Dina teve percalços ao longo da sua carreira, que poderiam ter sido evitados se a respeitassem enquanto Cantora, Compositora e, claro, Pessoa e Mulher. Os maus tratos são condenáveis, assim como privar alguém da liberdade de criar. Portugal tem fama de ter sido dos primeiros a abolir a pena de morte. Isto é só na teoria?
Ao todo, foram cinco as décadas que Dina, indissociável da sua guitarra, nos brindou com as suas canções. Canções, algumas, que andam por aí perdidas. Mas perdida é algo que não está a sua Música, essa está e continuará sempre entre nós.
Bem-Haja Dina!
Imagens: Internet