Vozes do Coração foi uma iniciativa do jornal Correio da Manhã, que consistia numa coleção de Livro + CD dedicado a alguns cantores portugueses. O volume correspondente à Dina foi o 19º a ser distribuido. No livro estão dados biográficos de Dina e o CD, em boa hora, é uma reedição do álbum Sentidos (1997).
As faixas deste CD são: 01. Tafetá 02. De Manhã 03. Depois de Mim 04. Ai a Noite 05. Faz-me Tua 06. Vitorina (da Banda Sonora da telenovela «Os Lobos», RTP) 07. Por Causa do Teu Olhar 08. Carregal do Sal 09. Dia Sim 10. Depois Não Digas 11. Arquitecto
Os leitores do sítio dezanove decidiram quais as Músicas Queer Nacionais Mais Marcantes... E Dina está no top cinco! A canção escolhida foi "Amor d'Água Fresca", uma canção que per si é muito diversa e que nas suas quatro versões linguísticas aglutina uma panóplia de frutas, flores, frutos silvestres e frutos secos, constituindo assim um original Golem. Uma canção que, em suma, é o mais claro exemplo de uma harmoniosa Alegoria ao Amor, repleta de aromas, cores, texturas, paladares e sons (das palavras) que aguçam os sentidos e a complexidade das dimensões do Ser Humano!!
Em 2013 foi editado um CD virtual (não foi lançado fisicamente) que contém os singles de Dina editados entre 1980 e 1983, mas é uma edição incompleta, pois falta o single Dinamite/Nem Mais, lançado em 1982. Contém nove faixas.
Na verdade, a compilação dos singles de Dina já tinha sido lançado fisicamente em 2001, na colecção "O Melhor de 2", que se tratava de um duplo cd de dois artistas (cada artista tinha as suas canções em um cd), no caso de Dina, as canções de Dina estavam no CD1, sendo que no CD2 estavam as canções de Mário Mata. Tal como o CD virtual, o físico de 2001 falta o Nem Mais, que foi substituído pelo Deixa Lá. Contudo apresenta o bónus Desamparem-me a Loja, para completar 12 canções.
No presente especial, vamos comemorar a totalidade dos singles de Dina no período 1980-1983, de forma cronológica, indo mais além, apresentando, tal como a edição física do CD de 2001, os bónus:
Guardado Em Mim
Guarda-Chuva
Pássaro Doido
Amar Sem Aviso
Há Sempre Música Entre Nós
Retrato
Aqui Estou
Dinamite
Nem Mais
Conta Comigo
Pérola Rosa Verde Limão Marfim
Deixa Lá
Desamparem-me a Loja
»» Nota: O painel desta comemoração sublinha que todas as canções de Dina são OURO SOBRE AZUL !
As canções de Dina são sementes de Liberdade, de Amor, de Igualdade e de Inclusão. O legado de Dina são as suas canções, o altruísmo e o artivismo.
»Já não se usa / Não ser capaz« (4)
"Somos todos pessoas e ponto!". Era esta a resposta que, calmamente, Dina respondia quando nos últimos anos ainda era "picada" sobre alguma temática LGBTQIA+. Cada pessoa tem a sua indentidade, que é diferente mesmo em gémeos! As pessoas dentro da comunidade LGBTIQ+ são todas diferentes, não se pode obrigar a todo este grande e diverso grupo a pensar e agir de uma única determinada maneira. Afinal, são pessoas ou coisas programáveis? "Os rótulos são descritivos, não prescritivos" (Stefano Verza, psicólogo clínico).
Dina não transgride, como várias vozes ocas a acusaram, mas antes transcende. Dina actuo em situações e climas hostis, intimidatórios, mas saiu sempre por cima. Dina deu o corpo às balas ao afirmar-se publicamente como membro da Comunidade LGBT no início da década de 90 (por Dina ser completamente transparente, todos sempre souberam desde sempre; sendo discreta nunca viveu escondida), pois já não suportava a violência para com essas pessoas e o seu assassínio, em muitos casos.
»»» Bónus:
Deixamos um hino reivindicativo de Dina pela causa LGBTQIA+, neste seu Dia Mundial: Deixa Lá.
Ondina Maria Farias Veloso, Ondina Veloso ou Dina | Mulher | compositora autodidacta | cantora com um timbre ímpar e facilmente identificável | interactiva | confortável em vários estilos musicais, mesmo opostos e improváveis | vanguardista e pioneira | uma referente scat singing* | humanitarista | artivista de várias causas | trato maternal, transparente, humilde e de voo altaneiro | e mais, muito mais | aqui, agora e sempre.
Dina é fiel a sí própria, é o que é - artivista, - e como tal, canta o empoderamento. Doa a quem doer!
»Já não se usa / Não ser capaz« (3)
Havia um canal do Youtube com o vídeo do segundo ensaio de Dina na Eurovisão, em Malmö, em que havia vozes ao redor da câmara, antes de começar dito ensaio, com vocabulário pejorativo se a Dina seria "mister" ou "miss" (quiçá algumas dessas vozes de fundo eram de dentro da Comunidade LGBTIQ+), mas depois do ensaio da canção a ovação surgiu, também pelo facto de ter sido apresentada uma versão diferente à do primeiro ensaio, pois foi bilingue, em português e inglês.
Há também muito ódio e preconceito entre os membros da Comunidade LGBTIQ+, achando-se umas pessoas superiores às restantes, criando subdivisões com posturas machistas, feministas e outras '-istas', que, como é de esperar, corroem e destroem. Há que haver diálogo e bom senso, há que remar juntos e bem sincronizados se o objectivo é vencer (ou pelo menos chegar a algum lado) - essas pessoas não sabem que a Diversidade é... DIVERSA! Nos Estados Unidos (e não só), durante o período feroz do HIV/SIDA nos 80´s, os homens homossexuais (e não só!) estavam a morrer pela inexistência de sangue nos hospitais. Foram as mulheres lésbicas que se colocaram na primeira linha de batalha contra a doença e fizeram em massa transfusões de sangue para os poderem salvar (fonte). Como se fosse pouco, foram elas que se acercaram aos doentes nos hospitais, que estavam completamente isolados e numa solidão profunda, dando-les afecto e retirando-lhes a culpa e a vergonha. Como sinal de reconhecimento e gratidão, a Comunidade, então GLBT, decidiu antecipar a sigla L (de lésbicas), cabendo-lhes as honras de abertura da designação desta diversa Comunidade, que se mantém até hoje a nível mundial: LGBT.
Dina é uma cantora e compositora diversa, artivista por natureza. Em meados de 1994 Dina estreia publicamente "Aguarela de Junho", uma trova belíssima acabada de ter letra da Rosa Lobato de Faria e que viria a ser gravada em 1998. Com esta canção Dina pronuncia e visibiliza que é 'o amor que não ousa dizer o seu nome'. Algo que nunca foi segredo, pois Dina sempre foi fiel a si própria. Contra o Ódio marchar, marchar. A apresentação da canção foi só com voz e guitarra, em que Dina utilizou os característicos vocalizos.
»Já não se usa / Não ser capaz« (2)
As palavras proferidas pela Dina sobre a sua sexualidade nos 90´s, em um Portugal onde imperava e impera ainda hoje o ódio, trouxe prejuízos à sua carreira artística, por pura estupidez de quem os praticou, "estupidez" essa que é crime punível por Lei (mas que NUNCA se aplica, como em tantas outras leis portuguesas)! Desde que a Dina apareceu na televisão e nos concertos, notava-se que ela era uma mulher com uma presença diferente, não só musicalmente falando, mas visualmente. É inteligível que as mulheres (assim como os homens) não são todas iguais, e Dina em nada dissimulava e vestia a pele de uma personagem muito feminina, segundo os cânones estereotipados que ditam as modas. Dina se apresentava tal e como era onde tinha de ir e estar, não deixando de ser Mulher.
Dina conseguiu transformar o que as mentes pequenas e nulas achavam de vergonha em orgulho, um ORGULHO SEM PRECONCEITO. Nos concertos, Dina cantava "Aguarela de Junho" com todo o sentimento e pujança que esta canção pede, transformando-a em um belíssimo hino da visibilidade lésbica e de empoderamento.
Em 1998 Dina participa na Banda Sonora da telenovela Os Lobos (RTP) com duas canções: "Vitorina" (do álbum 'Sentidos', de 1997) e otema inédito e autobiográfico "Aguarela de Junho".
Letra (Rosa Lobato de Faria):
Uma janela Aberta ao mar Um barco à vela A deslizar É Primavera Na minha mão Na tua hera Que ao sol me espera Já é Verão
Uma janela De par em par Numa aguarela De azul e mar Num horizonte Feito a pincel E os tons da tarde São mais verdade Na tua pele
Já não se usa Não ser capaz Tiras a blusa A cor do lilás E ao ver-te nua E tão mulher Na jarra verde Morreu de sede Um malmequer
»Já não se usa / Não ser capaz« (1)
Dina tem um timbre de voz e uma forma de cantar únicos e facilmente detectáveis e reconhecíveis, são a sua MARCA. A marca Dina também vai para além das suas canções e músicas, é igualmente indissociável desta a sua filantropia e o seu artivismo.
Anos antes da edição desta canção, a cantora e compositora Dina volta a agitar as águas, desta feita não pela sua música, mas falando publicamente da sua sexualidade em uma entrevista. Foi um ímpeto que a Dina sentiu a meio da década dos 90's, não para chamar os focos a si, mas para as variadas formas de violência física e mental que as pessoas LGBTIQ+ sofriam, para além da sua invisibilidade e do ostracismo a que eram remetidas. Este "pequeno" gesto de Dina, literalmente, salvou vidas, ao, algumas pessoas, tomarem consciência que não são as únicas no mundo que têm essa forma de sentir e amar, que não são aberrações (como os outros lhes afirmam e gritam), que há muitas mais pessoas como elas e que isso é perfeitamente normal, não é uma doença nem crime!Essas pessoas diluiram assim o sofrimento e ganharam vontade de viver e força para lutar contra o ódio que as querem matar. Nesse tempo, como nos dias de hoje.
Hoje fazemos Memória do quarto aniversário da Primavera Eterna da Cantora e Compositora Dina.
É bastante redutor afirmar que Dina só cantou emoções. Dina fez, igualmente, eco dos Direitos Humanos, com emoções à flor da pele, sim, mas com o foco na Liberdade e na Igualdade - o Amor no seu estado mais puro. - Esta luta foi um imperativo ético na Vida de Dina!
O legado de Dina é amplo e diverso e aí podemos encontrar também a sua humildade e o seu trato maternal. Dina era/é uma Mulher preciosa e de voo altaneiro!