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zonaDINAmica

Clube Oficial de Fãs da Cantora e Compositora Dina.

ESPAÇO DINA Inaugurado!

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No Dia Internacional dos Museus, 18 de Maio de 2021, foi inaugurado o ESPAÇO DINA no Museu Municipal de Carregal do Sal. Trata-se de um ambiente arejado e DINAmico, onde o visitante terá a oportunidade de fazer Memória da Cantora e Compositora Dina através dos objectos vivos que fazem parte do espólio museológico presente.

 

Ver a inauguração, transmitida online, aqui.

 

Um artigo com fotos, aqui.

 

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Contra a LGBTIfobia

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Dia 17 de Maio é o Dia Internacional Contra a LGBTIfobia. "Deixa Lá" é uma composição de Dina que aborda a Diversidade Sexual (a frase da imagem acima pertence à esta canção).

De lembrar que Dina é um referente da vanguarda:

- Já em 1975 fazia concertos com canções que compunha e se fazia acompanhar em palco dedilhando a sua guitarra;

- Foi a primeira intérprete e compositora LGBTI portuguesa no palco do Eurofestival - Eurovision Song Contest, - em 1992... E quiçá a primeira mulher compositora no dito festival;

- É, até ao presente dia, a única mulher na História de Portugal que fez e cantou hinos políticos;

- É um ícone da Filantropia, pois desde cedo revelou um coração largo e abraço várias causas.

 

 

 

Dina: A 'Scatter' Portuguesa

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Este ano de 2019 teve um acontecimento triste, o desaparecimento físico da cantora, compositora e instrumentista Dina, a 11 de Abril, no Hospital Pulido Valente, em Lisboa. Desde 2006 que Dina estava diagnosticada com fibrose pulmonar e aguardava por um transplante pulmonar, que nunca chegou a acontecer (em tempo útil). Dina era uma mulher indispensável na Cultura e Sociedade portuguesa, contava apenas 62 anos e cinco décadas de canções. Deixa saudade eterna e um enorme vazio no coração, mas fica vivo entre nós o seu Humanismo, o seu activismo pela pessoa humana sem rótulos e indiscriminações, os seus princípios e valores e, claro está, a sua música (editada e por editar).

 

Dina expressava-se por meio de muitas linguagens: Canto (em diversos estilos: Pop, Rock, Funk, etc.), instrumentos, performance vocal e corporal,... Uma riqueza cultural que somente será totalmente conhecida através do tempo. Hoje destacamos a sua faceta 'scatter'.

 

Dina (1956), uma pioneira da Música em Portugal em muitíssimas vertentes, desde muito jovem pegou na guitarra que havia lá por casa, dos irmãos mais velhos, e em vez de tocar e cantar canções que estavam na berra, começa a buscar sons na guitarra. É assim que, ainda estudante do 3º Ciclo e Secundário, começa a compôr e a cantar 'scat' (vocalizar sílabas 'nonsense'). A cantar 'scat' é que Dina faz a maquete para entregar à/ao letrista, acompanhado de alguns motes (frases). É sobretudo ao vivo que, no improviso, o canto 'scat' é caracterizado, mas ao longo de toda a discografia de Dina ele também está presente, desde o início, pelo menos desde o EP de 1976, Dina recorre ao 'scat' nas 4 canções do vinil. Possivelmente no seu primeiro trabalho discográfico de 1975 Dina tivesse já revelado ao "grande público" essa arte inusual em Portugal.

 

Ficam aqui três vídeos de compilações de concertos e actuações de Dina, onde está patente a performance 'scatter' de Dina:

 

Para conhecer alguns nomes do canto 'scat', a Wikipedia compilou alguns.

 

Para conhecer algo mais daquilo que é o canto 'scat', o poeta brasileiro Eucanaã Ferraz explica-o no seu programa radiofónico  "A Voz Humana", recorrendo a exemplos de cantores norteamericanos do Jazz.

 

Para fazerem o paralelísmo, vejam este vídeo de Ella Fitzgerald, considerada a Rainha do Scat lá pelas Terras do Tio Sam: 

 

A Ilha do Tesouro (Dina e José Mário Branco)

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(clicar na foto acima, de Dina com José Mário Branco em 1990, para ouvir a música)

 

No dia da partida de José Mário Branco, lembramos a canção "A Ilha do Tesouro", que fez parte do álbum Aqui e Agora (1990) e que tem a letra deste prestigiado senhor, assim como a música e voz da eterna Dina.

Recordamos que o José Mário Branco e Dina eram sócios da cooperativa cultural UPAV, que era considerada pelas discotecas de então como uma cooperativa marginal, assim como os sócios... Os "tentáculos das multinacionais" acabariam por assassinar os fins nobres da UPAV e dos seus sócios, pouco depois do seu nascimento em 1990!

Infelizmente, esta música no canal oficial do Youtube está 'riscada' (assim como mais duas deste mesmo álbum), por esse motivo fica aqui o áudio ao vivo do concerto de Dina no Teatro da Trindade em 1997 (clicar na foto acima, que ilustra este texto).

Em jeito de desabafo, sem desprestígio e ofensa para com o Carlos do Carmo, que tem e merece todo o respeito do Mundo!, se o representante da UPAV na Eurovisão de 1992 tivesse sido o José Mário Branco, tendo em conta a sua personalidade e carisma, este não deixaria acontecer a atitude machista da RTP de boicotar a presença no cocktail de boas-vindas da Dina e da Rosa Lobato de Faria (intérprete e autoras da canção que representavam as cores de Portugal desse ano!), entre mais alguns, igualmente grosseiros, que fez com que a Delegação ficasse mal vista às restantes. E o resultado acabaria por ser espelho disso,já que naquele então eram elas que votavam e não o público.

Bem-Haja e Descansa em Paz, José Mário Branco!

 

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Dina: Um Amor... De Água Fresca

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Pegando no cognome de Dina, lembrado e atribuído pelo Samuel Úria, trago a canção "Amor d'Água Fresca" (música e interpretação de Dina e letra de Rosa lobato de Faria), que faz parte da memória colectiva de Portugal e que representou o País no Eurovision Song Contest (ESC) de 1992 em Malmö, na Suécia.

 

Esta canção, após a vitória no Festival RTP da Canção, foi muito maltratada por alguns pseudo-jornalistas (sem formação em jornalismo, nem em música, nem como Pessoa sequer), que achavam que a letra não tinha qualquer sentido. Longe de ser a única canção cuja letra foi criticada, ainda hoje essa controversa sem sentido é lembrada. Para alguns, a papinha tem de ser toda feitinha e dada na boca. Para essas pessoas, lembro uma belíssima canção brasileira com letra em português de Fernando Brant e com música de Milton Nascimento, aqui na saudosa voz de Elis Regina - "Canção da América". Fazendo um paralelo entre estas duas canções, a dada altura a letra de Brant diz "Amigo é coisa pra se guardar / Do lado esquerdo do peito". Ora, para se conhecer quem é amigo há que primeiro experimentar - "trincar". - Porém, antes disso há que tomar a iniciativa de conhecer pessoas - "pegar". - Só desta forma se pode finalmente, a quem mereça, guardar do lado esquerdo do peito - "meter na cesta". - É este o encanto da complexidade do Amor, simplificado/descodificado nas três acções pegar, trincar e (caso valha a pena) meter na cesta [no coração]. Esta descodificação também foi feita por um Sítio francês, que compreendeu bem a essência do Poema, já que enaltece a originalidade da canção e elogia o vocabulário novo atribuído ao tema mais recorrente das canções [o Amor]:

 

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O 17º lugar e os 26 pontos conseguidos pela canção foram contestados. E ainda é considerado injusta a má classificação obtida, onde em vários TOPs do Youtube isso é espelhado, colocando "Amor d'Água Fresca" em melhores lugares, inclusive nos 10 primeiros lugares... E até no TOP3(!), chegando a rotular a canção como bonita e cativante ("cute" e "catchy"):

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O êxito pré-ESC referente à canção portuguesa por parte da Europa, que teve acesso ao videoclip que cortava com tudo o que já foi feito, assim como a versão "ecológica" em língua inglesa, murchou graças a vários desrespeitos por parte da RTP. Nesse ano de 1992 a delegação da RTP lembrou-se de proibir a participação das autoras e intérprete da canção (Dina e Rosa Lobato de Faria) no cocktail de boas-vindas na Suécia, ficando retidas no quarto de hotel. O que a RTP comunicou às restantes delegações, sobre a ausência das pessoas mais importantes de Portugal? Estavam assim tão famintos, com uma gula insaciável? Além disso, os planos de realização eram monótonas e repetitivos, sem diversificação, sem ritmo. O vestuário de Dina era completamente desadequado à canção, estando ela mais livre e solta com o que levou na final nacional da RTP, onde as cores azul-água e branco destacavam o tema da canção, assim como a blusa com frutas pintadas a mão pelo José Manuel Costa Reis. Ninguém da comitiva da RTP teve a amabilidade e o cavalheirismo de distribuir o merchandising que os amigos de Dina tiveram o trabalho de fazer para promoverem a canção de Dina. Teve de ser a própria Dina que, saco às costas, andou a distribuir o material promocional pelas outras delegações e intérpretes, o que foi muito mal visto pelas outras delegações. Ao longo da história do ESC, os nossos representantes são alheios às más classificações obtidas no ESC. A pontuação obtida por Portugal foi a seguinte:

 

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"Amor d'Água Fresca" é uma canção que desperta não só a boa disposição e energia, mas também todos os sentidos, é uma canção altamente sinestésica! Recordamos de seguida as actuações na semifinal e na final do Festival da Canção, assim como o videoclip e a passagem pelo ESC (da final e do 2º ensaio, que foi bilingue) desta canção autobiográfica da eterna Dina:

 

Imagens: Internet

 

Dina, In Memoriam

 

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Faz hoje 8 dias que Dina partiu fisicamente. A consternação ainda está apoderada de mim. Queria acreditar que o caso da Dina era o mesmo de um cantor célebre em todo o continente americano e Espanha, conhecido por El Puma, como comentei com um outro fã de Dina, que aquando a notícia da doença da Dina em 2016 vim a descobrir que ele também tinha fibrose pulmonar desde 2000. Em 2017 El Puma foi sujeito a um duplo transplante de pulmão e já teve uma breve actuação este ano... Sonhava que acontecese o mesmo com a nossa Dina. Que em dias surgiria na comunicação social que a Dina foi transplantada e já tinha voltado a gravar... Mas na manhã da passada Sexta-feira "acordei" para a realidade. Comparar Portugal com Estados Unidos da América (ou outros países da Europa) leva a, no mínimo, uma desolação gigante! O número de mortes por aqueles que aguardam por um transplante em Portugal são verdadeiramente assustadores (descobri após a Dina nos deixar)!...

 

Passa 8 dias que Dina partiu... E lembro o primeiro dia em que a Dina apareceu no pequeno ecrã, mostrando o Poema Inocência de António Gedeão que a própria Dina musicou e que se revela muito biográfico, uma imagem da própria Dina:

 

Hei-de morrer inocente
exactamente
como nasci.
Sem nunca ter descoberto
o que há de falso ou de certo
no que vi.
Entre mim e a Evidência
paira uma névoa cinzenta.
Uma forma de inocência,
que apoquenta.
Mais que apoquenta:
enregela
como um gume
vertical.
E uma espécie de ciúme
de não poder ver igual.

 

Ficam algumas reacções ao falecimento de Dina (Sítio Festivais da Canção): 1, 2, 3 , Kris Kople e da Ministra da Cultura. É de leitura obrigatória a "Carta de Despedida" de Júlio Isidro à Dina, do qual retiro estes dois parágrafos:

 

"A Dina passava da doçura do “Gosto do teu gosto” para a explosão do seu “Dinamite” num acorde da guitarra, levando consigo um público que lhe tinha carinho.
Foram anos a escrever cantigas e a mostrá-las em disco ou concertos, construindo um património que vale a pena ouvir em estreia, ou rebobinar e recordar, para se lhe atribuir o valor que se foi perdendo na voragem do preconceito e dos chamados novos tempos".

 

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Sem menosprezo para outras pessoas, destaco as palavras de alguns daqueles que participaram na Celebração de Vida, devida e em Vida, da Dina em 2016 - Dinamite, - fruto do trabalho do Gonçalo Tocha (Obrigado, Tocha... E todos os que se juntaram à esta grande Celebração!):

 

- Gonçalo Tocha: “Foi um daqueles encontros de almas em que nos tornamos muito cúmplices, falámos muito sobre vida, arte, música. Era uma pessoa muito aberta, faladora, amiga do seu amigo, generosa, sem preconceitos. Por isso é que ela fez tanta música diferente, pop, rock, baladas, funk”... “Era uma mulher hipertalentosa e, como pessoa, era exatamente o que mostrava ser. Uma pessoa acessível, carinhosa, amiga e de uma simpatia extrema”. “Em 1982 era quase a única cantora-compositora e hoje em dia está muito longe disso. Só aí já temos um legado”. “urge reeditar” os discos, especialmente os dois primeiros, “Dinamite” (1982) e “Aqui e Agora” (1991), que são “muito difíceis de encontrar”.

 

- Ana Bacalhau: “Ajudou a pavimentar a estrada que eu e outras mulheres pisamos agora”. Os espetáculos relembraram uma obra que continua a não ser conhecida “e reconhecida” em toda a sua dimensão. “Talvez ainda não lhe tenha sido dado todo o crédito que merece”, mas será uma questão de “descoberta”. Se as músicas forem ouvidas o respeito será imediato, acredita, porque “a qualidade está lá”. 

 

- Samuel Úria (crónica Da Água Fresca, no Sapo): "Foi senhora sempre. Senhora quando os nossos ouvidos, os seus pulmões, ou os corações de muita gente a maltrataram. Senhora sempre". "Amor de Água Fresca não é a melhor canção da Dina, mas Água Fresca podia ser o seu cognome". "Eu lembro-me bem dos anos 80; quantas vezes não devem ter sugerido à Dina para parar de costurar melodias e ir antes para casa coser meias?  Quantas vezes não lhe terão amesquinhado as opções e as ambições?". 

 

- João Gil (Diabo na Cruz): "Esta é a Dina, alguém por quem me apaixonei no primeiro minuto. Alguém que lutou contra o mesmo Adamastor que a minha mãe, que julguei nunca mais conseguir tirar da cabeça a primeira imagem que tive dela, a entrar na nossa sala de ensaios, com a sua garrafa de oxigénio na mão, a cantar uma musica connosco, a parar no primeiro refrão e a pedir desculpa por isso. Não precisavas de pedir desculpa... Desculpa eu não te ter abraçado mais vezes e ter dado mais beijinhos enquanto cá estiveste..."

 

- Alex D'Alva Teixeira: "Há quem diga que não devemos conhecer os artistas que admiramos, dado que a noção que temos deles é muitas vezes diferente da realidade, correndo o risco de sairmos desiludidos. Com a Dina, foi o oposto."

 

Antes de recordar a Celebração Dinamite no Teatro Rivoli (Porto), aconselha-se a leitura do artigo de Carlos Carvalho (ESCPortugal) que nos traz um especial sobre a discografia de Dina:

 

 

 

Imagens: Internet

Dina (1956-2019), (Um)A Cor da Vida

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Na noite do dia 11 de Abril de 2019, a Cantora e Compositora Dina (nome artístico de Ondina Veloso) falece no Hospital Pulido Valente, em Lisboa. Em 2006 foi diagnosticada com fibrose pulmonar, doença esta que a Ciência dá apenas 3 anos de vida, mas que a Dina teve fôlego para 13 anos, graças à paixão e garra pela vida. Aguardava por um transplante pulmonar, mas nunca chegou a vir o pulmão que ela tanto precisava para continuar a viver.Uma lutadora nata, que ninguém andou com ela ao colo, foi tirado a ferros o sucesso de Dina, que para muitos passa ao lado por desconhecimento da Obra, por culpa da comunicação social (sobretudo a rádio e a televisão, mas também a imprensa) e empresas discográficas, como referiu Júlio Isidro. Desde sempre a Dina teve o ímpeto para a cantoria. Foram 62 anos de Vida e de casamento com a música. 62 anos que se poderiam simbolizar num ambar.

 

Dina é a cor da própria Vida. Vida que Dina tão bem interpretou com o seu timbre único e característico em que o Mundo parava de girar mal a Dina abria a boca, com as palavras suas, mas sobretudo de poetas e poetisas (com pinceladas de algumas palavras suas, que serviam de mote) e, obviamente, musicou, pois a génese de tudo era a própria música. A Vida que a Dina com arrojo para além de cor deu também forma, textura, sonoridade, sabor, perfume e sentimento, tudo isto nos ofereceu em forma de Música, materializando o que para muitos não passaria de fórmulas complicadas que provariam a existência de um qualquer Buraco Negro algures no espaço. Por coincidência, horas depois da primeira imagem obtida deste a Dina nos deixa órfãos.

 

Dina não é reduzível, redutível. Tocou vários estilos musicais, desde a balada ao rock, passando pelo funk e outras "etiquetas". Dina encarna na perfeição uma trovadora dos tempos modernos. Alguém que menospreza a Obra de Dina por ideologias políticas (que Dina nunca teve!) ou aversões sexuais mostra, no mínimo, ausência de inteligência. Dina, por afinidade com uma pessoa, fez um hino partidário e participou na campanha desse ano de 1995, afinal, nesta sociedade é preciso dinheiro para se sobreviver, ou não? A História actual está cheia de nomes masculinos que tiveram e têm essa mesma atitude, mas que ninguém lhes atira pedras. Só por uma mulher ter a ousadia de fazer algo que está reservado(?) ao universo masculino dá direito a ser enxovalhada? Ó meus caros, Dina desde cedo se habituou ao lugar de primícia: É a primeira cantora compositora de Portugal - o dizem vários especialistas (será por, mesmo assim, ter mais Obra publicada?), - e não sendo a primeira a representar Portugal no Eurovision Song Contest enquanto tal, foi-o em dupla feminina, com Rosa Lobato de Faria em 1992, com uma canção simples, quase infantil, mas com uma maturidade brutal que ainda há quem ache a letra estranha, passado quase 30 anos! É estranho pegar em algo (pessoa, situação,...) novo, o trincar para arriscar nessa aventura e, se for de qualidade o meter na cesta (guardar no coração - estar atento ao minuto 3:20 e seguintes)? Dina, ainda moça, começa a compôr com a guitarra dos irmãos mais velhos que estava lá por casa, começa a dar nas vistas, quer em grupo (Quinteto Angola), quer depois em solitário, editando 2 EPs. Ainda a televisão era a preto e branco quando Dina teve a sua primícia televisiva musicando um poema de António Gedeão num programa do Nicolau Breyner. Quando a RTP começou a cores, no Festival da Canção de 1980, a Dina lá estava e conquistou o Prémio Revelação. Na primeira telenovela portuguesa, Dina marcou presença com "Aqui Estou". Em 1993, na primeira telenovela da TVI Dina compõe e dá voz ao genérico de "Telhados de Vidro". Também na TVI, o seu genérico "Que é de Ti", para a telenovela Filha do Mar, chama a atenção para a produção televisiva, marcando um antes e depois. Dina é o diminutivo de Ondina, que tem origem etimológica na palavra onda, logo Dina é sinónimo de movimento, liberdade, energia, revolução. Dina estava destinada a ser a primeira, mas nasceu em um País que não valoriza o que é seu. Mesmo não tendo recolhido grandes frutos, Dina foi importante para a Música e a Sociedade actual estar e ser, de certo modo, mais madura.

 

Dina teve percalços ao longo da sua carreira, que poderiam ter sido evitados se a respeitassem enquanto Cantora, Compositora e, claro, Pessoa e Mulher. Os maus tratos são condenáveis, assim como privar alguém da liberdade de criar. Portugal tem fama de ter sido dos primeiros a abolir a pena de morte. Isto é só na teoria? 

 

Ao todo, foram cinco as décadas que Dina, indissociável da sua guitarra, nos brindou com as suas canções. Canções, algumas, que andam por aí perdidas. Mas perdida é algo que não está a sua Música, essa está e continuará sempre entre nós.

 

Bem-Haja Dina!

 

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Imagens: Internet

 

Dina nos Deixou

É com pesar que informo que na noite passada faleceu a Cantora e Compositora Dina. As sinceras condolências à Família. Para todo o sempre se perpetuará a sua música. Bem-Haja Dina, por tantos e tantos momentos de Felicidade que me deste, quer pessoalmente quer através da tua Música. Descansa em Paz.

 

Recordamos alguns dos seus êxitos:

 

 

DINA40ANOS - Retrato #14 (FIM)

Como quem se assoma aos concertos de 22 e 24 de Março de 2016 - Dinamite - Concertos de Homenagem à Dina, - vamos, em tons de esmeralda (simbolizando o 40º aniversário de canções de Dina), concluir o percurso da discografia de Dina, em Retratos... Colaborações (de Dina em projetos de terceiros).

 

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Colaborações de Dina em projetos de terceiros

 

 1980

Dina participa (voz falada) no single homónimo de Aníbal Miranda no tema "Don't Shoot":

Dina participa nos coros do tema "Canção do Beijinho" (letra e música de Carlos Paião), de Herman José:

 

 1981 

 Dina presta homenagem ao maestro José Belo Marques (Leiria, 25 de janeiro de 1898 — Sobral de Monte Agraço, 27 de março de1987) no programa E O Resto São Cantigas (RTP), com o tema "Grão de Arroz" (letra e música do próprio José Belo Marques), celebrizado na voz de Amália Rodrigues (1953).

 

 Dina faz a música "Fora da Lei" para as Doce (letra de António Avelar de Pinho), que pertence ao álbum É Demais:

 

 1986 

 Dina participa nos coros dos temas "O Paciente" e "Cerimónias" do GNR (LP Psicopátria):

 

 

 1988 

 Dina grava com e para Carlos Paião um dueto do tema "Quando as Nuvens Chorarem" (Single/LP Intervalo):

 

 1994  

● Dina faz a música "A Tua Pele" para Alexandra (CD De Viva Voz).

 Dina participa na canção do Pirilampo Mágico:

 

 1995 

 Dina participa na canção do Pirilampo Mágico:

 

 

 1996 

 Dina tem uma participação especial no tema "Fazes Falta", de José Alberto Reis (CD Mágoas):

 Dina participa na canção "Racismo Não". A venda deste CD reverteu a favor da AMI (Assistência Médica Internacional). 

 Dina participa no tema “Novo Amanhã”, do projeto Correr Contra a Sida

 

 2001 

 Dina faz a música "Março Marçagão" para Paula Duke. Tema incluído na Banda Sonora da Telenovela Filha do Mar (TVI). [ Áudio ]

 

 2002 

 Dina compõe para Lena d'Água "A Luz Que Eu Vi". Tema incluído na Banda Sonora da Telenovela Sonhos Traídos (TVI). [ Áudio ]

 

 2008 

 Dina faz a música Paraíso” para o Zé P. (CD Ilha dos Sonhos).

 

 2011 

 Dina faz um dueto com Cassapo em Só Tu” (CD 11):

 

 2014 

 Dina, à convite dos TochaPestana, tem uma participação especial na versão destes do tema "Pássaro Doido" para o CD Música Moderna, tema este original do segundo single (1980) da cantora portuguesa Dina. Ficamos com o videoclip:

 

A Agenda Cultural de Lisboa entrevista a Dina

Uma nova geração homenageia a cantora

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No ano em que Dina celebra 40 anos de carreira, vários artistas da nova geração musical portuguesa juntam-se para reinterpretar os temas do primeiro álbum da cantora, Dinamite, de 1982, para além de outras 12 canções compostas entre 1980 e 2000.

No dia 22 de março, Ana Bacalhau, B Fachada, Best Youth, Da Chick, D'Alva, Márcia, Mitó, Samuel Úria e Tochapestana homenageiam a obra da intérprete e compositora que encerra, nesta data, a sua carreira.

A este propósito, estivemos à conversa com Dina para saber como olha para a nova geração de músicos, mas falámos também sobre alguns dos seus êxitos do passado.

Começou muito cedo a sua vida de artista, chegou até a fazer teatro na escola. Recorda-se do momento em que percebeu que queria fazer da música a sua vida?
Isso foi acontecendo, mas penso que foi na adolescência, quando se instala a insatisfação e nos refugiamos na música. Lembro-me que, quando fazíamos excursões na escola, mandavam-me sempre cantar a mim. Andei num colégio que tinha internato masculino e feminino, no Carregal do Sal, que apesar de tudo não era um meio tão fechado quanto isso. Havia um movimento estudantil, uma agitação nos cafés, e a música era central na vida dos adolescentes, ligava-nos. Na altura comecei a cantar e aprendi a tocar guitarra e foi assim que tudo aconteceu.

A Dina foi uma das pessoas que mais vezes deu voz a genéricos de novelas. O processo de composição de fazer músicas para um álbum ou para uma personagem é muito diferente?
Na primeira novela da RTP fui convidada para cantar o tema de uma miúda problemática, mas o genérico era cantado pelo Samuel. A canção a que dava voz era um tema da Rosa Lobato Faria e do Vítor Mamede. Depois, na TVI, fiz o genérico de Telhados de Vidro, e ainda mais duas ou três canções. É um processo muito diferente. Gosto muito de fazer músicas propositadamente para um personagem. Adoraria fazer a banda sonora de um filme. É muito interessante pegar no perfil de um personagem e construir a música de acordo com as nuancesdele. Foi um trabalho que me deu muito gozo fazer, mas entretanto as coisas mudaram. As editoras começaram a usar as novelas para divulgarem álbuns que estavam para sair. E deixou de haver inéditos.

Em 1992 participou no Festival da Canção com um dos seus maiores êxitos, Amor de Água Fresca. Diria que esta canção foi um marco na sua carreira?
Sem dúvida. Quis fazer uma canção para ganhar, e assim foi. A Rosinha (Lobato Faria) fez um cocktail de frutas muito engraçado… Considero que tenho dois ex-libris na minha carreira: Há sempre Música entre Nós, de 1981, que ainda hoje as pessoas conhecem, e Amor de Água Fresca que é transversal a várias gerações. É uma canção muito animada, muito fresca e que fala em fruta. Dá para fazer várias leituras dali [risos], é uma canção feliz, e, sem dúvida, um ícone.

Essa parceria entre a Dina e a Rosa Lobato Faria foi longa. Como era o vosso processo de trabalho?
Lembro-me que quando estava a fazer o álbum Aqui e Agora, tinha uma canção sem letra (sou mais compositora do que propriamente letrista). Mostrei a canção à Teresa Miguel das Doce, que me sugeriu que falasse com a Rosa. Sempre fui um bocadinho distraída da vida, e na altura não tinha noção de que a Rosinha andava metida nesta coisa das canções. Entretanto combinámos e a Teresa levou-me a casa da Rosa. Houve logo uma empatia enorme, e ela fez a letra com a maior das facilidades. A canção acabou por se chamar Acordei o Vento. Gostei logo da letra e de dizer as palavras dela. Nasceu daí uma enorme amizade, nem podia começar a tocar uma música ao pé dela, que ela começava logo a pensar na letra [risos]. Foi uma pessoa que serviu muito bem as minhas canções e que faz falta a muita gente.

Juntamente com a Rosa Lobato Faria, compôs o hino de dois partidos políticos. Alguma vez se arrependeu de ter emprestado a sua voz à política?
A única coisa que me magoou nesse processo foi que toda a gente reparou que eu dei a voz, mas no entanto toda a gente dava a cara e essas pessoas nunca foram questionadas. Lembro-me da Mafalda Veiga, do Pedro Granger, por exemplo. Isso incomodava-me um bocado, porque eu queria era que falassem da minha música. Somos cidadãos como outros quaisquer, temos direito a ter as nossas convicções. Não diria que estou arrependida, mas tinha feito as coisas de forma diferente, até porque fui muito penalizada por isso.

No dia 22 de março, é homenageada no São Luiz por Ana Bacalhau, B Fachada, Best Youth, Da Chick, D'Alva, Márcia, Mitó, Samuel Úria e Tochapestana. Como é que olha para esta nova geração de músicos?
O que eu gosto nesta gente é o facto de serem descomprometidos com o sistema, ao mesmo tempo que são muito comprometidos com o seu trabalho. Quando o Gonçalo Tocha me apresentou esta ideia, pensou logo numa homenagem, não com gente da minha geração, mas com gente desta nova geração de músicos. Gente que conhece e que gosta do meu trabalho. Quando conheci o B Fachada ele trazia o meu primeiro disco, em vinil. Lembro-me de lhe ter perguntado se ele conhecia o álbum, ao que ele me respondeu: ”conheço muito mais de ti do que tu de mim”. Fiquei orgulhosa, o B Fachada é um personagem. Por arrasto veio esta malta toda… Por exemplo, acho que o Samuel Úria tem um bocado da minha 'cena'. Não digo que tenham ido beber à minha música, mas sabem quem eu sou, conhecem o meu trabalho e agradou-lhes a ideia de fazer este espetáculo.

Conhece as versões que eles vão fazer ou vai ser uma completa surpresa?
Como intérpretes e autores que são é natural que deem o seu cunho pessoal. Aliás, basta abrirem a boca para a música já não ser minha, passa logo a ser deles. Estou muito curiosa e ansiosa por ver as minhas músicas serem cantadas por esta malta toda [risos]. Vou estar em palco com eles a tocar. À partida também cantarei uma ou duas canções vamos ver…

Este concerto marca o encerramento da sua carreira. Sente que está na altura de dar lugar aos mais novos?
Exatamente por ser o encerramento da minha carreira é que faço questão de estar em cima do palco. Não tem a ver com isso, o que acontece é que tenho um problema de saúde que não me permite continuar a cantar. Tenho fibrose pulmonar há nove anos e isso limita-me enquanto cantora. Não posso estar em cima de um palco a tossir, simplesmente não dá. Mas vou terminar com chave de ouro, com esta malta toda a cantar as minhas músicas no São Luiz.

[por Filipa Santos | fotografias de Francisco Levita/CML-ACL]

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Fonte: www.agendalx.pt/artigo/entrevista-dina#.Vug7Nbz4R15

Publicada a 15 de Março de 2016